O caso Sally Clark:
No Reino Unido, em Setembro de 1996, o casal de advogados Steve e Sally Clark estavam muito contentes. A 22 de Setembro nasceu o seu filho Christopher. Sally decidiu não trabalhar durante alguns meses e ficar em casa com a criança. Tudo parecia normal até 13 de Dezembro, quando Sally desceu à cozinha para ir buscar algo para beber e, ao regressar ao quarto, encontrou o bebé no seu berço com a cara cinzenta.
Sally, então, solicitou ajuda médica e uma ambulância rapidamente levou a criança ao hospital, mas infelizmente o menino não se salvou. Após a morte de Christopher, Sally retomou as suas atividades profissionais, todavia, enquanto prosseguiam com o seu trabalho, o casal viveu um período de luto, depressão e desespero.
Quando Sally engravidou novamente, a alegria foi grande e a 29 de Novembro de 1997, nasceu saudável o pequeno Harry que foi acompanhado de perto, tal como todos os irmãos mais novos de bebés que falecem em Inglaterra. Depois de os pais terem colocado a dormir a sesta, examinaram-no novamente um pouco mais tarde e perceberam que o pequeno Harry tinha ficado pálido. Steve correu para o quarto, deitou a criança no chão e tentou reanimá-lo. Uma ambulância conduziu o casal e a criança até ao hospital. Mas, mais uma vez, os médicos não conseguiram salvar a vida da criança.
Foi ordenada uma autópsia, após a qual o patologista acreditou que havia provas suficientes de maus tratos que justificavam uma investigação completa. Sally Clark foi presa pelo assassinato dos seus dois filhos. Sally foi julgada no Tribunal da Coroa de Chester. Tudo o que os peritos disseram pareceu grotesco, horrível e doloroso para Sally.
Mas depois, o ilustre pediatra Sir Roy Meadow tomou a palavra. Encantador e jovial, Meadow estava, por todas as aparências, cheio de compaixão pelo sentimento da arguida e estava hesitante em encontrar palavras condenatórias, o que tornava as suas acusações ainda mais eficazes. Exalou competência, experiência, habilidade e bondade. Ao ouvir seu testemunho, Sally ficou paralisada.
"Se eu não soubesse que sou inocente", disse ela mais tarde, “estar a ouvi-lo assim, fez-me pensar que eu era culpada". Ao banco das testemunhas, Meadow achou importante partilhar os seus conhecimentos, experiência e conclusões com o juiz e com o júri.
A investigação estatística mostrou que “a probabilidade de morte no berço, numa família do estatuto social dos Clarks, é cerca de 1 em 8543", explicou Meadow. "Isto significa que a probabilidade de duas dessas mortes ocorrerem na mesma família é igual ao quadrado desse número:"
1 em 73 milhões
A 9 de Novembro de 1999, por uma votação de dez votos contra dois, Sally Clark foi considerada culpada de homicídio e condenada a prisão perpétua.
...Quais foram as consequências deste veredito para Sally Clark?
De facto, surgiram dúvidas sobre a exatidão do veredito imediatamente após ter sido proferido. Vários cientistas destacaram que a probabilidade de morrer de síndrome de morte súbita infantil é significativamente mais elevada se um irmão já tiver morrido pela mesma razão. No entanto, passaram-se anos até que a opinião de Sir Roy Meadows tenha sido oficialmente contestada. Mais tarde, verificou-se que uma infeção por Staphylococcus aureus causou ambas as mortes. Sally Clark foi absolvida num segundo julgamento. No entanto, morreu anos mais tarde como resultado do uso abusivo de álcool.